quarta-feira, 20 de julho de 2011

Obstetrícia adequada poderia salvar 3,6 milhões de vidas, mostra novo relatório

38 de 58 países poderiam atingir a ODM5 com mais 112 mil parteiras

Até 3,6 milhões de mortes poderiam ser evitadas a cada ano em 58 países em desenvolvimento se os serviços de obstetrícia fossem ampliados até 2015, segundo um importante relatório divulgado pelo UNFPA, o Fundo de População das Nações Unidas, e parceiros.

O Relatório Situação Mundial das Parteiras e Parteiros Profissionais 2011, lançado no Congresso Trienal da Confederação Internacional de Parteiras Profissionais (ICM) que acontece em Durban, África do Sul, revela novos dados confirmando que há uma diferença significativa entre o número de parteiras em atividade e o número de profissionais necessárias para salvar vidas.

"Para assegurar que cada mulher e seu recém-nascido tenham acesso a serviços de obstetrícia de qualidade, é preciso que tomemos medidas ousadas que complementem o que temos alcançado em todas as comunidades, países e regiões de todo o mundo", disse Ban Ki-moon, Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, em seu prefácio ao relatório.

A cada ano, 358.000 mulheres morrem durante a gravidez ou o parto, cerca de dois milhões de recém-nascidos morrem nas primeiras 24 horas de vida e são registrados 2,6 milhões natimortos, tudo em razão de cuidados de saúde inadequados ou insuficientes.

"O relatório aponta para uma necessidade urgente de formar mais profissionais de saúde com competências em obstetrícia e assegurar o acesso equitativo aos serviços nas comunidades, a fim de melhorar a saúde das mulheres e crianças", disse Dr. Babatunde Osotimehin, Diretor Executivo do UNFPA.

O Relatório Situação Mundial das Parteiras e Parteiros Profissionais 2011 revela que, a menos que 112 mil novas parteiras sejam capacitadas e colocadas em postos de trabalho, 38 dos 58 países pesquisados não conseguirão alcançar a meta de 95% de partos realizados e atendidos por pessoas qualificadas, como exige o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (ODM) 5, relativo à saúde materna. Em escala mundial, o déficit de parteiras é de 350 mil profissionais.

Além disso, se instalações médicas adequadas estivessem acessíveis para lidar com complicações no seu início, muitas mortes poderiam ser evitadas - 61% ou cerca de dois terços de todas as mortes maternas, 49% ou quase metade de natimortos, e 60% ou 3 em cada 5 mortes neonatais. O relatório acrescenta que, se as parteiras estivessem no lugar certo para os serviços para que pudessem auxiliar com atendimento especializado nas complicações mais graves, até 90% das mortes maternas poderiam ser evitadas.

O Relatório Situação Mundial das Parteiras e Parteiros Profissionais 2011, coordenado pelo UNFPA, é o resultado da colaboração entre 30 parceiros, cujo objetivo coletivo é fortalecer as práticas obstétricas para prevenir as mortes maternas, sequelas do parto e melhorar a saúde dos recém-nascidos, famílias e comunidades inteiras. O relatório pesquisou 58 países que, juntos, representam quase 60% de todos os nascimentos mundiais, mas 91% de todas as mortes maternas. Entre os 38 países que necessitam mais urgentemente agregar parteiras até 2015, 22 precisam duplicar a força de trabalho; sete precisam triplicar ou quadruplicar; e nove (Camarões, Chade, Etiópia, Guiné, Haiti, Nigéria, Serra Leoa, Somália e Sudão) necessitam intensificar significativamente a oferta de parteiras profissionais, multiplicando o número de trabalhadoras entre 6 e 15 vezes.

"Este relatório identifica claramente a necessidade de criar uma autoridade competente e ativa de parteiras e parteiros profissionais, que trabalhe como componente de um sistema de saúde eficaz. Além disso, novos padrões globais da ICM para o ensino de obstetrícia e regulamentação ajudarão governos e formuladores de políticas a colocar em prática as recomendações do relatório ", disse Bridget Lynch, presidente da Confederação Internacional de Parteiras Profissionais.

A maioria das mortes ou sequelas decorrentes do parto ocorrem em países de baixa renda e acontecem porque as mulheres - geralmente pobres e marginalizadas - não têm acesso à instalações de saúde eficazes ou à profissionais de saúde qualificados, principalmente aqueles com habilidades obstétricas.

O aumento do acesso das mulheres à serviços obstétricos de qualidade tornou-se um foco de esforços globais para alcançar o direito de toda mulher a melhores cuidados de saúde durante a gravidez e o parto. É também o ponto central de três Objetivos de Desenvolvimento do Milênio - reduzir a mortalidade infantil (ODM 4), melhorar a saúde materna (ODM 5) e combater a Aids, a malária e outras doenças (ODM 6).

Além de número insuficiente de parteiras, o relatório revela que a cobertura no interior dos países é desigual, assim como sua qualidade. Há uma escassez de instituições de formação e oportunidades de emprego para parteiras. Além disso, as regulamentações são deficientes, as associações profissionais são fracas, o ambiente político é desfavorável e a omissão dos serviços de obstetrícia no cálculo do custo dos planos de recursos humanos para a saúde materna e neonatal são grandes desafios.

O relatório faz uma série de recomendações aos governos, órgãos reguladores, instituições educacionais, associações profissionais e organizações internacionais que ajudariam a solucionar estes problemas e reforçar o status da obstetrícia nos 58 países pesquisados.

"A boa notícia é que, quando as mulheres estão ao alcance de uma parteira ou parteiro apoiados por um sistema de saúde eficaz, não só se reduz nitidamente a possibilidade de morte devido a complicações do parto, como também as e os profissionais obstétricos passam a ser o vínculo de importância para o bem-estar do bebê e de atenção à saúde de toda a família”, disse Lennie Kamwendo, presidente da White Ribbon Alliance for Safe Motherhood – Malawi Board of Trustees. “É preciso assegurar prioridade a investimentos em parteiras e parteiros profissionais para oferecer o cuidado de salvar vidas em comunidades onde muitas vidas de mães são perdidas desnecessariamente”.

Mais informações:
Acesse o site www.stateoftheworldsmidwifery.org, onde está disponível o relatório completo.

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