terça-feira, 10 de maio de 2011

Oficina de Comunicação discute o programa de tuberculose


Gestores da saúde e participantes de várias entidades durante a oficina


A tuberculose é a terceira causa de óbitos por doenças infecciosas no Brasil e a primeira em pacientes com aids. Apesar de o combate à doença ter progredido nos últimos anos, com uma redução no número de casos novos (de 73.673 para 70.601) e na taxa de incidência (de 38,82 para 37,99 pacientes por 100 mil habitantes), a tuberculose continua sendo um problema de saúde pública que boa parte da população desconhece: estudo realizado pelo Fundo Global/Fiotec e Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) revelou que 52% das pessoas não sabem que a doença ainda existe, o que aponta para a necessidade de informação para o controle da doença. Debater estratégias de comunicação sobre a tuberculose foi o objetivo da oficina “Comunicação, Saúde e Tuberculose”, realizada em Brasília nos dias 3 e 4 de maio.

Participaram do evento gestores da saúde, profissionais de comunicação do Ministério da Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), representantes do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Fundo Global, de ONGs e entidades da sociedade civil que trabalham com saúde pública e da comunidade acadêmica. O coordenador do evento, Liandro Lindner, do Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT/SVS), diz que é preciso “ouvir os gestores, academia e outros, contribuindo para a criação de campanhas que reflitam a realidade de quem vive o risco da doença”. Para Liandro, é preciso continuar aprofundando o debate sobre comunicação em tuberculose, com a criação de um grupo que proponha diretrizes para nortear as campanhas de mídia e mobilização.


A Comunicação em Saúde como um processo dialógico entre Estado e Sociedade

Jurema Werneck, integrante do CNS e da ONG Crioula, do Rio de Janeiro

As campanhas de tuberculose devem envolver a participação dos sujeitos que sofrem com a doença e da população mais vulnerável. É o que defendem alguns dos participantes da oficina, concluindo que a comunicação em saúde para a tuberculose não deve se restringir à transmissão de informações sobre a doença, mas também estimular e propor o diálogo com a sociedade, principalmente com os segmentos mais afetados, como os moradores de rua e os que vivem em situação de extrema pobreza.

Jurema Werneck, integrante do CNS e da ONG Crioula, do Rio de Janeiro, estado com maior incidência da doença, defendeu a participação dos que vivenciam o problema. "As pessoas que têm tuberculose precisam ser ouvidas para esclarecer dúvidas de novos pacientes e também passarem suas experiências, para que outras pessoas não se infectem", declarou.

Para o coordenador do Programa Municipal de DST/AIDS do Recife, Aciolly Neto, as estratégias de comunicação têm que levar em conta a realidade específica do público mais atingido. Ele usa como exemplo o combate à epidemia de aids na capital pernambucana. “As campanhas de aids são focadas em públicos específicos e debatidas por representantes do governo e da sociedade civil para adequar a linguagem ao público”, relatou Aciolly.


Atuação da sociedade civil é fator essencial no controle a tuberculose

A participação da sociedade civil é essencial no controle da tuberculose. Prova disto é o projeto Padrinhos, realizado em Porto Alegre, que conta com a participação de pessoas da comunidade no apoio ao paciente com tuberculose, com o objetivo de garantir a continuidade do tratamento, que dura seis meses e não pode ser interrompido. Parte dos padrinhos já teve a doença, fator favorável à relação com o “afilhado”.

Outra importante oportunidade de interação e parceria com a sociedade é o momento da elaboração de campanhas, com focos em realidades locais. Segundo Manfred Gobel, representante da Associação Alemã de Assistência aos Hansenianos e Tuberculosos no Brasil, é importante entender que cada lugar tem sua linguagem. “Nada melhor do que trabalhar com as pessoas que estão na ponta para elas falarem o que é preciso”, avalia.

Gobel também ressalta a importância da interação entre o setor público e a sociedade civil na realização de ações em prol do controle da tuberculose. “Mobilização social só tem êxito se o setor público agir junto”, conclui.

Preconceito - Durante a realização da oficina, um dos temas mais citados foi o preconceito, que ainda se faz presente nos mais diversos meios sociais. O conhecimento da população sobre a tuberculose é pouco, se comparado com a quantidade de informação que se tem atualmente sobre a doença. Recentes pesquisas de opinião mostram o desconhecimento e a desinformação em relação à doença. Portanto, é necessário ampliar a divulgação de formas de prevenção e detecção da tuberculose.

O desconhecimento sobre a doença é um dos fatores que propiciam atitudes preconceituosas, que acabam isolando as pessoas infectadas. Essa situação dificulta a cura do paciente, pois cria resistência à busca pelo tratamento.

Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Data/Universidade Federal Fluminense (UFF) e Projeto Fundo Global Tuberculose Brasil, a carga de preconceito e estigma presentes no imaginário popular é confirmada pelos dados: 56,4% das pessoas entrevistadas propõem o isolamento das pessoas doentes ou evitam compartilhar objetos de uso comum.

A pesquisa aponta ainda que o preconceito é detectado mesmo no grupo de entrevistados que conhece alguém que já teve ou tem tuberculose. O percentual daqueles que se afastaram e evitaram qualquer contato com as pessoas infectadas foi de 29,9%. Somado com aqueles que dizem que separam os utensílios domésticos utilizados pelo doente, o percentual subiu para 34,3%.


Entrevista:
Informação contribui para controle da tuberculose

Draurio Barreira, coordenador do Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) do Ministério da Saúde, fala sobre a Oficina Comunicação, Saúde e Tuberculose e os desafios que a comunicação tem no combate à doença. "Contra a infecção do HIV, por exemplo, existe a camisinha, mas, para a TB, a principal arma é mesmo a informação", explica Draurio.

Qual a importância desta oficina para as ações de controle da tuberculose?
A comunicação é uma arma poderosa para o aumento do conhecimento dos efeitos e ações de controle da tuberculose. Duas pesquisas recentemente realizadas, pelo projeto Fundo Global/Fiotec e pela SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia), apontaram um desconhecimento de, na média, 50% da população sobre o tema. Na medida em que empreendermos ações voltadas para a realidade e as necessidades dos públicos mais vulneráves, estaremos contribuindo para que o conhecimento aumente e o controle da doença seja mais efetivo.
Que papel a comunicação pode ter para que o Brasil consiga reduzir a incidência da tuberculose na população, aumentar a taxa de cura dos atuais 73% para os 85% recomendados pela OMS e diminuir o abandono do tratamento?
O tratamento de TB é de seis meses, mas logo no início os pacientes já apresentam melhora e a tentação de abandonar o tratamento é grande. Isto causa vários problemas. Entre eles, o risco de desenvolver uma tuberculose resistente, com cura mais difícil e custo e tempo maiores de tratamento. Para que a cura seja efetivada é fundamental desenvolver ações de comunicação voltadas aos pacientes, aos familiares e amigos, estimulando a continuidade do tratamento. Paralelo a isto, questões como a reinserção social, direitos humanos e combate a discriminação e preconceito também são importantes para que o entorno da realidade do paciente seja apoiado e sua cura, alcançada.
Quais seriam as razões para o fato de 50% da população desconhecer que a tuberculose ainda existe? Quais as providências tomadas para reverter esse quadro?
O imaginário social remete a tuberculose ao século XIX e início do XX, quando era conhecida como "mal dos românticos", uma doença associada à boemia. Após o advento da epidemia da aids, com o crescimento dos grandes centros urbanos, das desigualdades sociais, dos bolsões de miséria e o aumento das populações de rua e outras vulneráveis, o problema recrudesceu. Gradativamente, temos implementado ações que reforçam a idéia de que tuberculose não é coisa do passado, mas uma realidade presente que deve ser observada e detectada a tempo e, principalmente, que existem todas as condições de cura da doença, quando tratada de forma correta.
Na Oficina, foi feita uma analogia do combate à aids com o da tuberculose. Quais as lições das campanhas de combate ao HIV para o controle da tuberculose?
A resposta brasileira à epidemia da aids é um exemplo de mobilização e comprometimento para qualquer programa. A participação da sociedade civil, principalmente das associações de pacientes, e o engajamento dos gestores estaduais e municipais, da academia, da inciativa privada e de toda a sociedade foram fundamentais para que a aids atingisse os patamares atuais de controle, embora este seja um exercício constante. A tuberculose é a principal causa de morte dos soropositivos para o HIV, o que por si só já é um bom motivo para aproximação dos programas e das ONGs. A integralidade - um dos princípios do SUS-, além de garantir o funcionamento pleno do sistema, contribui para a cura e o bem estar do paciente.

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